sábado, 5 de junho de 2010

Meia noite e quarenta e sete...

... Do dia 04/06/2010. Sorria, você está sendo filmada.

Você passa a vida
    esperando ser reconhecida.
E quando alguém reconhece
                [você já nem acha que merece.


Estou tensa e propensa a reclamar dessa vida maldita que eu aprendi a amar.
A situação tá cada dia mais difícil, mas poxa vida... Me esfregam na cara que eu sou cínica e debochada... Pois então eu vou é me divertir (mentira), vou recolher as pedras do meu caminho e construir meu penhasco castelo.
Acontece que, quanto mais complica, mais eu me sinto sortuda por ter conhecido tanta gente que escreve bem. Daí, agora, eu consigo ver a beleza insolente nas coisas nojentas de existir. As pessoas emanam poesia e é tão lindo! Eu posso me afogar num rio, ou tomar alguma coisa forte, ou usar uma faca ou algo mais calmo ou mais doentio, mas ainda vai ter valido a pena.
Colocaram uma bomba fake? num prédio com alguns milhares de pessoas ricas e jovens e bonitas e pobres e empenhadas... E eu não sei o que pensar. E a todo momento os prédios vão sendo evacuados e a gente nem sequer é informado sobre o que está acontecendo e então saímos rindo e gritando e tentando escutar o telefone, porque é isso o que importa, não é? E a gente treme de ver a multidão e a impotência e a vulnerabilidade e é assim o tempo todo, e a gente ri e joga futebol e faz carnaval e é indicado ao Oscar e a gente pensa que, poxa vida, cara, é isso, não é? Do que se precisa para ser feliz? E continuam evacuando os prédios, botam a gente pra fora quando o filme tá bom e fazem isso em todo lugar. Quando o filme tá bom, ele vem e bota você pra fora e isso te humilha e te destrói um pouco - só um pouco, mas um pouco todo dia - e você sai e continua saindo e continuam sempre te mandando sair, quando o filme está bom. E você sai, e ri, porque você pode ser feliz, afinal, ser feliz é muito mais do que poder ver o filme ou sair ou escolher o que ou quem você vai comer ou o que você quer ser quando crescer, porque essas coisas... não liga pra isso, são bobeiras, deixe de ser dramática. Ser feliz é muito mais que isso. Quando você é bonita e podre e inteligente e gay e tem saúde e tem depressão e tem uma família que te mata ama, deixe de frescura e seja feliz. Porque, porra, tem gente que passa fome e tem câncer e não trepa e é feliz, você deveria ficar feliz por não estar nessa situação. Porque você tem pra onde voltar todo dia e tem o que comer. Não ligue se você não é respeitada, pois você tem muita sorte, muita sorte mesmo por não ser como aquelas pessoas. Você não é igual a mim e eu nunca vou ficar satisfeito com algo que venha de você, mas você precisa ser feliz, porque a sua loucura é feia e ofende a minha perfeição. Você tem muita sorte, garota, então, não ouse profanar a nossa instituição sagrada.
Mas agora, ao menos, você sabe o quanto é agradável quando alguém escreve uma coisa bonita, mesmo se estivermos sendo despedaçados.
O mundo continua rodando.
Espetacular!

PS: Aindá dói. Do it and do it again. Não é má sorte.

O Ministério da Saúde adverte: "Se você é psicóloga ou puta, se afeiçoar ao cliente pode ser prejudicial ao seu trabalho".

Compre as flores você mesma.

Uma e vinte e sete.


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